quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Os efeitos do bullying em crianças com SA

Os efeitos do bullying em crianças com SA

Algumas das características que os portadores da Síndrome de Asperger apresentam os tornam alvos potenciais de bullying, que pode gerar conseqüências que têm efeito por um bom tempo. O bullying não é um termo fácil de ser definido. Ele pode ser uma forma de agressão física, verbal, emocional, racista ou sexual.

Os efeitos do bullying em crianças com SA

Fonte: Asperger's Syndrome Foundation

Tradução livre de Ubiratan Bueno

O que é bullying?

Bullying não é um termo fácil de ser definido. Ele pode ser uma forma de agressão física, verbal, emocional, racista ou sexual. O bullying pode incluir:

• Hostilidade e agressão constante contra uma mesma vítima.
• Desequilíbrio de poder entre os agressores e a pessoa intimidada.
• Um resultado doloroso e angustiante para a pessoa que está sendo intimidada.

Por que as crianças com SA podem ser os alvos mais prováveis?

Geralmente, há dois tipos de alvo:


• Alvos passivos: fisicamente mais fracos, tímidos, de baixa auto-estima, solitários e acadêmicos.
• Alvos Pró-Ativos: são percebidos como irritantes e provocativos, socialmente desajeitados, comportamento inadequado, que procuram chamar a atenção e que não sabem quando parar.

Assim, algumas das características que os portadores da Síndrome de Asperger apresentam os tornam alvos potenciais de bullying, como por exemplo:

• Crianças com SA podem procurar ficar sós na hora do intervalo, o que as tornam um alvo óbvio.
• Crianças com Síndrome de Asperger são percebidas como ingênuas, que se deixam levar, excêntricas, de baixa auto-estima, e "pobres" na moeda do estatus social e amizade. Elas não são “legais”, “valentões” ou “populares”, mas vistas como “frágeis”, tendo poucos amigos preparados para defendê-las.
• Crianças com SA não tem o "radar" instintivo que lhes possa dizer quem são os prováveis bullies em seu grupo de relacionamento.

Quem tende a se engajar em um ato bullying?

Quando lhe perguntaram por que eles passaram a intimidar, as crianças responderam:


• para sentir-se melhor
• para assustar os outros
• para ter mais poder e controle
• para ser legal
• para conseguir o que querem

Outras razões mais complexas incluem:

• A necessidade de estar no controle
• A falta de empatia com a vítima
• Uma tendência a desafiar a autoridade
• A necessidade de criar auto-estima através do exercício do poder malicioso e autoritário sobre seus pares
• A necessidade de ser um “gozador”

Os sinais de estar sofrendo bullying

Crianças com Síndrome de Asperger podem não ser capazes de reconhecer que um ato é bullying e, portanto, podem não relatá-lo a um adulto.
Adultos e responsáveis em casa precisam saber reconhecer quando uma criança é uma vítima usando outras formas de evidência:

• evidência física: pertences perdidos ou danificados, ou roupas rasgadas
• evidência médica: contusões ou ferimentos
• evidência psicológica: aumento da ansiedade afetando o sistema gastrointestinal, com dores de estômago e outras condições relacionadas com o stress, bem como problemas com o sono, a relutância em ir para a escola e evitar certas áreas.

Outros sinais:

• Uma mudança no interesse especial de temas relativamente benignos para um intenso interesse em armas, artes marciais e filmes violentos.
• Ao desenhar pode expressar a violência, retaliação e vingança.
• A criança pode imitar os atos das crianças que praticam bullying quando estão brincando em casa.

Os efeitos do bullying em crianças com SA

• Conseqüências psicológicas do bullying podem durar um bom tempo.
• Pode ser desenvolvida a paranóia, achando que estão sendo assediados, por exemplo pensando que todas as crianças o estão intimidando.
• Incapacidade de reconhecer quando gracejos ou brincadeiras de lutas são amigáveis.
• Insultos podem ser interpretados literalmente e um comentário de passagem pode ter implicações de longa duração.

Estratégias para reduzir a freqüência do bullying

Todas as estratégias devem incluir:


• a provável vítima de bullying
• a administração da escola
• os professores
• os pais
• os psicólogos
• as outras crianças
• a criança que se envolve em atos de bullying

Para a escola:


1. Criar um código de conduta.
2. Preparar os funcionários da escola para saberem:

- Como controlar situações em que é provável que ocorra o bullying.
- Como responder às observações.
- Como investigar cuidadosamente as observações.
- Como relatar os atos de bullying.
- Como providenciar a verdadeira justiça.

3. Identificar os locais mais propícios ao ato e evitá-los.
4. Identificar lugares seguros e criar mais deles.
5. Pedir a outras crianças na escola para ajudar com as estratégias.
6. Pedir a outras crianças (as testemunhas) para resgatar a vítima, e desencorajar o autor.
7. Incentivar crianças com um "status social elevado", a ter um forte senso de justiça e assertividade natural, para intervir.
8. Instigar um sistema de responsabilidade de grupo por atos de omissão, por não intervirem.
9. Criar um sistema de duplas (recrutando crianças no grupo com "status social elevado")
10. Recompensar este sistema de duplas.
11. Ensinar à criança com Síndrome de Asperger técnicas de prevenção, como por exemplo fazer parte de um grupo (safety in numbers).
12. Promover atividades supervisionadas nos intervalos, como clube de xadrez, grupos de ciências, etc

Para as potenciais vítimas:


• Procure manter a calma (estratégias de diálogo interno podem ajudar).
• Procure manter a sua auto-estima (lembrá-los que eles não têm culpa).
• Procure responder de uma forma assertiva e construtiva, como por exemplo: "Eu não gosto disso, pare com isso"
• Afirmar claramente que o ato de bullying será comunicado.
• Procurar se distanciar da situação, caminhando em direção a um adulto ou para um grupo seguro de crianças.

Se a criança com Síndrome de Asperger não tem certeza se as ações dos outros são amigáveis ou não, ele terá que explicar as suas dúvidas e sentimentos. Uma réplica poderia ser:

"Você está me provocando como um amigo ou não?" ou
"O que você está fazendo / dizendo está me fazendo sentir ..."


Uma vez que o incidente tenha terminado, como estratégia a vítima deve anotar os acontecimentos, para que seja possível fazer três cópias do relato: uma para o professor da turma, uma para o diretor da escola e uma para os pais. Uma vez que os atos de bullying forem registrados e comunicados oficialmente, é menos provável que tais incidentes sejam ignorados.

Fora da escola:


Diálogos em histórias em quadrinhos podem ser usados para descobrir e explicar os pensamentos e sentimentos da criança com Síndrome de Asperger sobre o incidente, e Histórias Sociais (Social Stories) para determinar o que fazer se circunstâncias similares ocorrerem novamente.
Quando novas respostas positivas forem identificadas, elas ajudarão a ensaiar estas respostas em algumas atividades de teatralização que foquem sobre outros aspectos, como, postura corporal e controle de voz, e que reporte quando uma determinada estratégia revelou-se eficaz.
Algumas crianças com SA podem ter aprendido que, muitas vezes, um ato violento pode ser eficaz em interromper o comportamento inadequado de alguém. O autor do ato pode não estar ciente de que extrapolou o limite final da criança com SA, e pode não estar preparado para a ferocidade da resposta.
Às vezes, essa é a resposta que a criança que cometeu o ato de bullying realmente queria, com o objetivo de aparecer como uma vítima virtuosa, ou às vezes ela quer manipular uma situação em seu favor, como por exemplo para evitar uma prova.

Terapia comportamental cognitiva


As crianças sabem que uma caixa de ferramentas normalmente inclui uma variedade de artefatos para o conserto de alguma coisa. Discussões e atividades podem ser usadas para identificar diferentes tipos de "ferramentas" para lidar com uma situação particular. Os tipos de ferramentas podem incluir:


• Ferramentas físicas, talvez representadas por uma imagem de uma chave de fenda. Esta categoria de ferramenta pode incluir ações como caminhar para longe da situação.
• Ferramentas de relaxamento, representada por um pincel. As atividades incluem manter a calma, como contar até dez ou exercícios de respiração lenta.
• Ferramentas sociais, representadas por um serrote para dois lenhadores (two-handled saw). Utilizar atividades que envolvam outra pessoa, tais como encontrar um amigo ou tutor, ou unir-se a um grupo de crianças.
• Ferramentas para pensar, talvez representada por uma fita métrica. Criar comentários de diálogo interno como: "Eu sou muito inteligente para ficar chateado por isso", ou "ele / ela vai ter problemas se fizer isso de novo porque eu vou delatá-los".
• Ferramentas inadequadas ou respostas, talvez representada por um martelo. Para sugerir o uso da violência para acabar com a situação.

Existem livros especializados dirigidos às crianças com Síndrome Asperger sobre estratégias de como lhe dar com o bullying.* Pesquisas indicam que a mudança de escola tem pouco efeito na redução da probabilidade de que a criança será uma vítima. Os pais são essenciais na abordagem para reduzir os atos de bullying, e eles precisam estar cientes das políticas e estratégias de ensino. Os pais podem estimular a criança a ter confiança e a desenvolver a capacidade de revelar suas experiências como vítima, e para conversar com um amigo, professor, pais ou conselheiro. No Reino Unido autoridades da educação criaram um canal de atendimento de bullying, para que as crianças deste país procurem aconselhamento e apoio.

* em literatura estrangeira

Fonte: http://www.mundoasperger.com.br


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